domingo, 15 de setembro de 2013

25 pérolas de páginas de direita no Facebook: o ódio e a ignorância como ideologias

Ódio: o lema de grande parte da direita conservadora brasileira, senão dela inteira.
Ódio: o lema de grande parte da direita conservadora brasileira, senão dela inteira.
Aviso: leia imprescindivelmente as regras de comentários do blog antes de comentar este post. Não vou poupar quem vier despejar ódio, grosseria, hostilidade e preconceito (mesmo com o disfarce de discordância) por aqui – comentários do tipo serão apagados e lamentações de quem teve comentários deletados serão ignoradas.
Nessa semana eu visitei diversas páginas brasileiras de direita conservadora do Facebook. Uma das minhas intenções era ver o que o conservadorismo brasileiro tem a oferecer de ideias e propostas de sociedade para os brasileiros em geral. Mas não achei nada que lembrasse uma vontade de promover justiça, promover o bem.
Tudo o que eu achei foi ódio. Ódio contra tudo aquilo por que a esquerda libertária luta, e também por quem é ou era militantemente de esquerda. Ódio contra a luta LGBT, contra o respeito às diferenças, contra quem luta pela igualdade, contra o ambientalismo, contra o feminismo, contra os Direitos Humanos, contra o socialismo e o comunismo (contra estes o ódio ultrapassa todos os limites de irracionalidade e fanatismo), contra a luta dos ateus por visibilidade e respeito, contra a onda nacional de protestos de junho, contra o pouquinho que existe de Estado de bem-estar social no Brasil, contra a distribuição de renda, contra a diversidade etnocultural e religiosa… contra tudo e todos que tenham como ideais a justiça, a igualdade, o progresso ético-moral, o chamado desenvolvimento social, o respeito e a paz. Só não achei ódio racial porque hoje racismo é crime no Brasil, ainda que tenha encontrado uma absurda imagem racista contra a diversidade etnocultural – que não divulguei aqui por precaução.
Mesmo políticos e partidos que abandonaram a esquerda e aderiram a um pragmatismo misto de politicamente liberal (pelo menos no que tange à privatização de bens públicos) e moralmente conservador – aliás, mesmo partidos que hoje são largamente reconhecidos como de direita – foram fulminados.
Não faltaram alianças com grupos e indivíduos fascistas, antidemocratas, ultramisóginos, fundamentalistas religiosos e homofóbicos. Outras coisas que não faltaram foram as falácias, em especial do espantalho, ad hominemnon sequitur e distorções de fato, revelando-se uma impressionante ignorância histórica e política sobre regimes ditatoriais, a natureza e os objetivos das ideologias de esquerda, a existência de corrupção em partidos e governos/regimes de direita e centro-direita (inclusos os governos de FHC em Brasília e de José Serra em São Paulo), os ideais que movem movimentos como o feminista e o LGBT, as causas da existência da pobreza, entre tantas outras coisas.
Não achei motivos ali por que eu deveria me tornar um conservador. Só achei ódio, raiva, rancor, fanatismo, mentiras, falácias, preconceito e ignorância. Cheguei perto de sentir mal estar e tontura diante de tanto ódio. Me perguntei como as pessoas que curtem ou mantêm tais páginas vivem bem de saúde física e mental – se ao menos vivem com a saúde íntegra – tendo o ódio como princípio moral.
Como frutos colhidos dessa fuçada em fanpages de direita, catei 25 imagens que são verdadeiras pérolas. Foram escolhidas por serem falaciosas, refletoras de ignorância sócio-político-histórica ou simplesmente absurdas demais. Cada uma leva os devidos comentários e teve sua origem ocultada de modo a não divulgar as páginas que eu visitei.
Felizmente tal ideário tende a se tornar cada vez menos difundido e mais repudiado. A sociedade brasileira está começando a entender que defender a conservação da ordem injusta existente é algo absurdo e o ódio não leva a nada.
Veja as 25 imagens abaixo, clicando em cada uma para vê-la em tamanho completo.

perola-antiaborto
A direita jura que embriões que sequer desenvolveram um cérebro e sistema nervoso central são capazes de pensar e manifestar desejos e intuições. Usa de falácias do espantalho (como a de que o feminismo defenderia que seria normal ou mesmo mandatório abortar fetos desenvolvidos ou mesmo próximos de nascer por qualquer motivo banal) e chantagem emocional para convencer as pessoas de que uma mórula (embrião que ainda tem o formato de um cacho de células-tronco) tem mais dignidade e direitos que, presumivelmente, uma criança já nascida que cresce numa favela. E obviamente a mulher que figura na imagem é branca – fora das imagens que negam as formas veladas de racismo e as políticas afirmativas raciais, são raríssimas as pessoas negras ou indígenas nas imagens panfletárias da direita.

perola-anarquismo-de-extrema-direita
Na cabeça de certas pessoas, a única coisa que difere esquerda e direita é o número e o peso das competências do Estado, não tendo a direita nada a ver com conservação de valores morais estagnados, ego-individualismo, naturalização das desigualdades, propriedade privada, crença numa “natureza humana” egoísta e violenta, antiprogressismo, entre tantos outros aspectos ideológicos. O absurdo da distorção do espectro ideológico é tamanho que o anarquismo, ferrenho defensor da igualdade; da liberdade ética e responsável; da soberania popular absoluta e da extinção da propriedade privada, do capitalismo e do Estado (que, segundo já dizia Max Weber, precisa do uso da violência para existir), foi considerado de extrema-direita.

perola-apologia
Não importa para conservadores que Salvador Allende tivesse sido aclamado pelo povo chileno pelo voto e um defensor do zelo da igualdade entre todos os indivíduos da sociedade pela lei. O que mais importa é que Allende era “socialista, logo um potencial ditador sanguinário e totalitário”.

perola-a-uma-mulher
Machismo, androcentrismo e homofobia são normas no conservadorismo. Tanto que a imagem acima é direcionada especificamente para homens cis heterossexuais e revela o que é o “amor/casamento tradicional” tão defendido na direita: uma relação de troca em que a mulher é uma mera máquina que troca moedas por produtos e serviços e o homem é o seu cliente e patrão ao mesmo tempo. Além disso, vale também cultuar gente que incita o ódio contra minorias e tem como objetivo a destruição dos direitos destas.

perola-a-verdade-doi
Revolta contra as injustiças da ordem social não pode, é “crime” e “vandalismo”, mas preconceito, intolerância e cerceamento dos direitos alheios, incluído o de amar, pode.

perola-bolsonazi-pena-de-morte
Ignorância social e política é lei entre quem apoia Jair Bolsonaro. Acreditam piamente que matar condenados vai inibir ou acabar com o crime, desconhecendo claramente que sempre novos criminosos hediondos vão surgir de uma ordem social desigual e cultuadora da violência e que nenhuma sociedade dotada de pena de morte conseguiu eliminar o crime pelo medo e pela execução de criminosos. Importa-lhes apenas que os crimes sejam vingados, nunca que tenham sua raiz cortada. É como quem defende que as chuvas vão deixar de cair nos vidros dos carros graças aos parabrisas.

perola-calunia-difamacao
Difamar e caluniar homossexuais, considerando-os inferiores, risíveis e indignos de direitos, pode. Denunciar publicamente a difamação e a calúnia contra eles, não. “É crime”.

perola-cotas
Non sequitur patente: por causa de três homens que vive(ra)m em três séculos diferentes, não existe nenhuma dinâmica social racista que inibe e impede que milhões de pessoas negras (incluídas também mulheres e pessoas transgêneras) alcancem altos cargos de poder no Brasil ou sequer se formem em Direito.

perola-esquerda-x-direita-2
Não basta confeccionar espantalhos ridículos da esquerda, também é de lei fazer espantalhos heroicos da direita. Completa ignorância sobre os princípios políticos e morais de ambas as metades do espectro político, um reductio ad absurdum extremamente maniqueísta. O ódio é pai da falácia, e a ignorância é sua mãe.

perola-esquerdices
No conservadorismo a esquerda é tão demoníaca que virou xingamento. Esquerdistas são feios, chatos, bobos e caras de mamão.

perola-estatuto
Na geração de quem fez essa imagem é que era bom demais. Crianças e adolescentes não tinham direitos e eram submissos à violência e ao autoritarismo dos adultos.

perola-eu-sou-reacionario
O reacionário acima defende a liberdade compartilhando imagens que defendem o fim de N liberdades. Aliás, sequer defende alguma coisa descrita na imagem (“trabalho e estudo como caminho”, “menos intervenção estatal”, “liberdade religiosa” etc.) fora seu próprio ódio contra as mudanças sociais. Entendedores entenderão.

perola-feliciano-x-wyllys
Defensores de Marco Feliciano: usam falácia de apelo à multidão e esquecem que Feliciano ofendeu milhões de mulheres, negros, afrorreligiosos, homossexuais, pagãos e católicos.

perola-feminismo
O espantalho que fazem do feminismo é melado de sangue. Dizem que o feminismo prega “ódio e misandria” ao mesmo tempo em que incitam o ódio contra feministas. Qualquer semelhança com as charges misóginas contra as sufragettes (defensoras do direito feminino ao voto que militaram nos séculos 19 e 20) não é mera coincidência.

perola-humanofobia
Porque ser um humano é motivo de preconceito, discriminação e crimes de ódio. Opressões de gênero, de raça, de orientação sexual, de (ir)religião, de idade etc. non eczistem, e ser um crime de ódio não deveria ser considerado agravante de crimes contra a vida e a integridade físico-psicológica. Assim acreditam os homofóbicos e machistas.

perola-intervencao-militar
Contra uma “ameaça” imaginária, supressão da democracia já! O nazi-fascismo idealizador de “inimigos nacionais” mandou lembranças.

perola-levante-se
PSDB, PMDB, PR E PSD COMUNISTAS!!!!111!onze!11um!!!1 Extrema-direita: sentir medo ou rir?

perola-maconha
Fumar maconha não! Beber até cair e agredir e matar pessoas bêbado sim!

perola-partidos-sociais
Certas pessoas delirariam se fosse criado o Partido Antissocial Antipopular Antitrabalhista Brasileiro.

perola-preta-gil
 Para depreciar quem defende justiça e igualdade, vale fazer comparações esdrúxulas, machistas e criminosamente difamatórias entre um inimigo dos Direitos Humanos e uma cantora defensora dos mesmos. Aviso: Caso Preta Gil queira processar o autor dessa imagem por difamação, sinta-se à vontade – fonte da imagem. Sinta-se à vontade também, Preta, de requisitar que o Consciencia.blog.br apague a imagem acima caso ache melhor.

perola-quer-mudar-o-brasil
Pessoas que desejam conservar a ordem das coisas e impedir mudanças falam em “mudar” o Brasil e listam coisas que não fazem nada para defender fora expelir ódio verbal contra a esquerda e os partidos ex-esquerdistas.

perola-revolucionario-x-reacionario
Divulgar o que a esquerda realmente pensa é “doutrinação ideológica”. Divulgar espantalhos da esquerda e divinizar a direita e seus valores não é. Coerência faz falta por aqui.

perola-serra-x-haddad
Certos militantes de direita têm crenças que deixariam crianças pequenas envergonhadas.

perola-sexo-que-precisa-de-protecao
Porque os homicídios, suicídios e atropelamentos de homens são causados pela opressão “femista”, “misândrica” e “ginocêntrica” promovida pelas mulheres. Mulheres “femistas” matam ou atropelam homens e induzem homens ao suicídio a cada minuto – dá para levar isso a sério? E a proposta aqui é proteger o homem… dele mesmo?

perola-socialismo-x-capitalismo
Capitalismo, onde filas de pães esperam por você. Exceto se você fizer parte dos bilhões de seres humanos que não têm condição de comprar filas de pães na padaria graças à desigualdade promovida pelo capitalismo.

domingo, 1 de setembro de 2013

Globo: o odor da saturação

Não se sabe ainda se há relação de causalidade entre uma coisa e outra.

O fato é que manifestantes do Levante Popular guarneceram a sede da Globo em SP, neste sábado (31), com fezes. A retribuição, em espécie, dizem os integrantes do protesto, remete ao conteúdo despejado diuturnamente pela emissora nos corações e mentes da cidadania brasileira.

Apenas algumas horas depois, uma nota postada no site do jornal ‘O Globo’ manifestava o arrependimento da corporação pelo editorial de 2 de abril de 1964, de apoio ao golpe que derrubou Jango e instalou, por 21 anos, uma ditadura militar no país (Leia os dois textos ao final desta nota).

Se a matéria-prima do protesto motivou a purgação é imponderável.

Mas por certo a recíproca é verdadeira.

O fecalismo voador de que foi alvo o edifício-sede das Organizações Globo na capital paulista é decorrência da ação coesa, contínua, não raro beligerante, que o maior grupo de mídia do país tem dispensado contra ideais e forças progressistas do país.

A nota deste sábado é histórica.

Mais pela evidência da mudança na correlação de forças que obriga a emissora a se desfazer de um legado incomodo, do que pelo arrependimento que simula.

Na verdade, nem simula direito.

A nota faz malabarismo, tergiversa e mente para justificar o golpe que apoiou ostensivamente.

No fundo, apenas lamenta ter sido tão desabrida, como se não houvesse amanhã.

O amanhã chegou.

Seja na forma de matéria fecal, protestos massivos, redes alternativas de informação, desqualificação ética, queda de audiência e desprestígio editorial.

O fato é que há na sociedade um discernimento crescente em relação aos verdadeiros propósitos e interesses que movem o noticiário, as campanhas e perseguições movidas pelas Organizações Globo contra projetos, direitos, governos, lideranças e partidos.

A Globo foi e é parte diretamente interessada no assalto ao poder que interrompeu a democracia brasileira em março de 1964.

Não se trata de um editorial isolado, como tenta edulcorar a nota deste sábado.

Testemunha-o o acervo de 49 anos de pautas golpistas depois do golpe.E décadas de idêntico engajamento pré-64.

Ou terá sido coincidência que, em 24 de agosto de 1954, consternado com a notícia do suicídio de Vargas, o povo carioca perseguiu e escorraçou porta-vozes da oposição virulenta ao Presidente; cercou e depredou a sede da rádio Globo, que saiu do ar?

O mesmo cerco que levaria Vargas ao suicídio, asfixiou Jango, dez anos depois.

Foi da mídia (a Globo na comissão de frente), a iniciativa de convocar o medo, a desconfiança, o linchamento das reputações que levariam uma parte da classe média a apoiar o movimento golpista.

Mente a nota ‘arrependida’, ao afirmar, citando Roberto Marinho, em 1984: “os acontecimentos se iniciaram, como reconheceu o marechal Costa e Silva, ‘por exigência inelutável do povo brasileiro’. Sem povo, não haveria revolução, mas apenas um ‘pronunciamento’ ou ‘golpe’, com o qual não estaríamos solidários.”

Quem inoculou o terror anticomunista na população, de forma incessante e sem pejo?

Quem gerou o pânico e, a contrapelo dos fatos, martelou a tecla de um governo isolado e manipulado ‘pelo ouro de Moscou’?

O acervo do Ibope, catalogado pelo Arquivo Edgard Leuenroth, da Unicamp, reúne pesquisas de opinião pública feitas às vésperas do golpe.

Os dados ali preservados foram cuidadosamente ocultados pela mídia no calor dos acontecimentos e por décadas posteriores.

Agora conhecidos, ganham outro significado quando emoldurados pela atuação do aparato midiático ontem – mas hoje também.

Enquetes levadas às ruas entre os dias 20 e 30 de março de 1964, quando a democracia já era tangida ao matadouro pelos que bradavam a sua defesa em manchetes e editoriais, mostram que:

a) 69% dos entrevistados avaliavam o governo Jango como ótimo (15%), bom (30%) e regular (24%). Apenas 15% o consideravam ruim ou péssimo, fazendo eco dos jornais.

b) 49,8% cogitavam votar em Jango, caso ele se candidatasse à reeleição, em 1965 (seu mandato expirava em janeiro de 1966); 41,8% rejeitavam essa opção.

c) 59% apoiavam as medidas anunciadas pelo Presidente na famosa sexta-feira, 13 de março.

Em um comício que reuniu então 150 mil pessoas na Central do Brasil (o país tinha 72 milhões de habitantes), Jango assinou decretos que expropriavam as terras às margens das rodovias para fins de reforma agrária; e nacionalizou refinarias de petróleo.

As pesquisas sigilosas do Ibope formam apenas o desnudamento estatístico de um jornalismo que ocultou – e oculta – elementos da equação política quando se trata de sabotar as aspirações progressistas da sociedade; convocou e convoca, exortou e exorta, manipulou e manipula, incentivou e incentiva o complô, a manobra, a desqualificação, ao cassação e, no limite, o golpe.

Em defesa dos mesmos interesses que fizeram 64.

O editorial ‘O Renascimeto da Democracia’, de que se arrepende a empresa ora guarnecida com resíduo fecal, não foi um ponto fora da curva. Mas o curso natural de um engajamento histórico.

Não se deduza disso que a democracia brasileira vivia em 1964 mergulhada na paz de um lago suíço.

Num certo sentido, vivia-se, como agora, o esgotamento de um ciclo e o difícil parto do novo.

Uma parte da sociedade – majoritária, vê-se agora pelos dados escondidos no acervo do Ibope – considerava no mínimo pertinente o roteiro de soluções proposto pelas forças progressistas aglutinadas em torno do governo Jango.

As reformas de base – a agrária, a urbana, a fiscal, a educacional — visavam destravar potencialidades e recursos de um sistema econômico exaurido.

Jango pretendia associar a isso um salto de cidadania e justiça social.

O que importa reter aqui, como traço de atualidade inescapável, é o comportamento extremado do aparato midiático diante desse projeto.

Convocada a democracia e a sociedade a discutir o passo seguinte da história brasileira, os campeões da legalidade de ontem e de hoje optaram pelo golpe.

Deram ao escrutínio popular um atestado de incompetência política para formar os grandes consensos indispensáveis à emergência de um novo ciclo de desenvolvimento com maior justiça social.

Não há revanchismo nesse retrospecto.

Pauta-o a necessidade imperativa de dotar a democracia brasileira das salvaguardas de pluralidade midiática e participação social que a preservem da intolerância conservadora.

Aquela que em 54 matou Getúlio.

Em 1964, negou à sociedade a competência para decidir o seu destino.

Em 2002 fez terrorismo contra Lula.

Em 2005 tentou derrubá-lo e impedir a sua reeleição em 2006.

E assim se sucede desde 2010, contra Dilma.

A exemplo do que se assiste agora contra o PT e suas lideranças, ao mesmo tempo em que se exacerba a gravidade dos desafios econômicos na manipulação das expectativas dos mercados.

Veiculado pela família Marinho dois dias depois do golpe, o editorial do Globo, não foi um ponto fora da curva.

Ele consagra um método.

Que a experiência recente não pode dizer que caiu em desuso.

Mas que vive um ponto de saturação.

Ilustra-o a necessidade de mostrar arrependimento.

Bem como o sugestivo odor exalado das paredes da sede da Globo em São Paulo.

O arrependimento simulado serve também como admissão de culpa.

De quem moveu a alavanca da derrubada de um governo democrático. Mais que isso: legitimou, ocultou e se esponjou nas vantagens obtidas junto a um regime que recorreu à tortura e ao assassinato contra opositores.

Cabe à Comissão da Verdade fazer desse 'arrependimento' um verdadeiro ato de justiça. E convocar a Globo a depor perante a Nação.
Por Saul Leblon