quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Presidenta, leve o Brasil a Ialta. E leia o Kissinger




“Os líderes não criam o contexto em que operam. Sua contribuição consiste em operar no limite do que uma determinada situação autoriza. Se o líder excede esse limite, ele cai; se fica atrás do limite, provoca a estagnação. Se, porém, constrói de forma consistente, ele pode criar um novo conjunto de relações que vai elevá-lo acima daquele momento histórico, porque todas as partes envolvidas considerarão que aquilo é de seu interesse.”


“On China” , Henry Kissinger, The Penguin Press, New York, 2011, pág. 215.


Essa frase faz parte do capítulo em que Kissinger descreve os passos que levaram à visita de Nixon à China.

Antes, ele tinha descrito de forma impecável a genialidade do diplomata Mao Tsé Tung.

Cercado por quatro gigantes – URSS, Índia, Japão e EUA – , Mao se aliou ao mais forte – EUA – para enfrentar o que mais o ameaçava – URSS.

E isso, quando a China tinha saído da crise da Revolução Cultural, e mergulhava num impasse sucessório, já que o herdeiro-aparente, o Ministro da Guerra, Lin Biao, morreu num suspeito desastre de avião quando fugia para a URSS.

E foi aí que Mao seguiu o que ele próprio pregava: o Grande Timoneiro navega a favor da corrente. E, não, contra.

A Presidenta Dilma Rousseff tem diante de si o momento de assumir um papel que transforme a liderança do Brasil em beneficio para todas as partes.

A hora não poderia ser melhor.

O Brasil vai sair da crise econômica mais forte.

Como na crise de 2008, o desempenho do Brasil será exemplar.

As potências de antanho – aquelas que servem de bússola aos neolibelês (*) – sairão da crise enfraquecidas.

Dos BRICs, o Brasil é o único país ocidental.

Está ao lado da África – onde se trava, hoje, uma parte significativa da batalha pelo domínio econômico, amanhã.

O Brasil, como os Estados Unidos, será, breve, do Atlântico e do Pacífico.

O Brasil tem essa formidável Classe C, invenção do Nunca Dantes, que desconcerta os Neolibelês, e funciona como um arsenal dissuasivo, atômico.

O único defeito, ao se comparar com os outros dos BRICs, é que o Brasil não tem (ainda) bomba atômica.

(Por obra e graça de dois desastrados presidentes – Collor e seu discípulo, FHC.)

Nesta crise corrente, a Presidente já mostrou as garras.

Não vai pagar pela crise dos Estados Unidos e da Europa – dois relapsos.

Quer estar na mesa da Reconstrução.

No novo Bretton Woods.

E vai jogar pesado nos organismos internacionais – ONU, FMI, G20.

Dilma pode ser a timoneira do Brasil na nova Ialta .

Há algumas pré-condições.

Contornar a furiosa resistência da elite brasileira, que se materializa no PiG (**) e na formação PSDB-DEMOS.

São os colonizados, os vira-latas, que querem ainda um Brasil de 20 milhões, e o resto trancado numa Soweto.

Eles são poucos.

Mas ladram e mordem.

Como enfrentá-los ?

Não será com o Paulo Bernardo.

Esses colonizados querem que o Brasil fique encarcerado na discussão da “meta inflacionária” e da pesquisa Focus, o “mercado”.

E fazer como o PSDB, que, rabo de fora – sobre os novos anões do orçamento – só fala em corrupção.

Essa é a turma ancorada em 1964, quando derrubou Jango com a mão dos americanos.

E em 1994, quando o brasileiro votaria num poste, desde que a inflação acabasse.

Votou em FHC.

A Presidenta também terá que superar o legado do Nunca Dantes.

A agenda social está posta.

O Brasil sem Miséria será cumprido.

O Nunca Dantes manteve a Petrobras no Brasil – não entregou à Chevron, como fariam o Farol e o Cerra.

O Nunca Dantes criou o maior programa de intervenção social em atividade no mundo – o Bolsa Família – e deu um prato de comida, educação e vacina a milhões de famílias brasileiras.

E o Nunca Dantes inventou a Classe C.

(Esta frase tem o objetivo de irritar os tucanos e seus trombones no PiG (**) – o Lula inventou a Classe C ! )

Agora, a tarefa da Presidenta é seguir adiante.

O passo à frente.

Empurrar o barco na direção da corrente.

Levar Brasil a Ialta.

À África.

América Latina.

Deixa a Colômbia fazer um acordo de livre comércio com o Obama.

O amigo navegante sabia que a fuga de mexicanos para os Estados Unidos, em busca de emprego, caiu a zero, segundo entrevista do presidente Calderon ao New York Times ?

A Colômbia precisa mais do Brasil do que dos Estados Unidos.

A Hillary disse que os Estados Unidos deveriam imitar o Brasil e colocar a Economia acima da Diplomacia.

Tai.

Uma boa ideia.

Botar o Patriota, tão discreto, tão more of the same, sob as ordens do Mantega.

O Mantega, sim, fala grosso lá no FMI e no G20.

Botar o Patriota para fazer fonoaudiologia com o Mantega.

O Kissinger descreve o Mao com a ajuda de uma lenda chinesa.

Tinha dois sábios que viviam atras da montanha.

O Sábio Neolibelês (essa é uma contribuição à narrativa chinesa secular, modestamente …) e o Sábio Idiota.

Os habitantes do vilarejo não conseguiam ampliar a área de cultivo, porque a montanha os emparedava no vale apertado.

O sábio idiota propôs que ele e os filhos começassem a cavar a montanha.

O sábio neolibelês caiu na gargalhada: vocês jamais vão conseguir remover a montanha.

Os sábio idiota e os filhos, mesmo assim, começaram a cavar.

Depois deles, os filhos e netos.

Depois, os filhos e netos.

E o vale se ampliou – sem a montanha.

Este ansioso blogueiro desconfia que a Presidenta simpatize com o sábio idiota.


Paulo Henrique Amorim

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