sexta-feira, 13 de julho de 2012

Vida curta aos jornais que se vendem


Há pouco mais de três anos afirmei nesse mesmo Terra Magazine que os jornais terão vida longa, apesar dos alarmistas que ganham rios de dinheiro dando palestras apocalípticas sobre o fim anunciado do companheiro de todas as manhãs.
Nunca tive tanta certeza assim. Os jornais terão vida muito longa e conviverão – já convivem – com as mídias digitais, cada um desempenhando o seu papel. Jornais estão mudando seu jeito de ser, isso sim. Menos notícias, mais análises. Menos páginas, mais conteúdos interessantes.
Mas há uma categoria crescente de jornais com vida curta: os jornais mal administrados, que fazem acordos com políticos. Um apoio editorial em troca de anúncios da prefeitura. Chega a doer essa prática sem moral que visa favorecer uma pessoa, uma empresa ou um partido e enganar milhares de leitores. Lamentavelmente essa estratégia canalha, velhaca, virou realidade sem grandes disfarces no Brasil, principalmente no Interior. Uma rápida pesquisa por jornais de importantes cidades do interior de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul revelou extrema dependência de verba oficial para os jornais locais. E um conteúdo espúrio, mentiroso, extremamente parcial.
Em outras palavras, alguns títulos quase centenários estão sujando sua reputação para apoiar este ou aquele candidato em ano eleitoral. O troco vem em forma de anúncios da prefeitura – ou promessa para depois da posse. Esse é o mais potente tiro de canhão no pé que um jornal pode dar. Jornal vende confiabilidade, não apoio a candidato. Jornal vive de uma parceria de longo prazo com o leitor, não de dinheiro rápido da prefeitura para pagar as contas do fim do mês.
Os jornais têm todo o direito de apoiar editorialmente uma posição ou um candidato, desde que isso não interfira na lisura e na busca da verdade dos fatos. O editorial pode ser favorável a um candidato, mas o noticiário não. Acabou-se o tempo da mentira, a TV já invadiu os lares, a Internet de bolso é realidade no Brasil. Esconder um fato é pisar em tomates em uma loja de cristais.
Se a realidade no interior do Sul Maravilha é de um jornalismo ruim – com honrosas exceções, é claro – o que dizer do interior das outras regiões? O jornalismo da pior qualidade, comprometido, feito sob medida pelos empresários corruptos da comunicação e por editores que vivem de jabás se espalhou pelo Brasil. Esse jornalismo está condenado à morte. E não será uma morte lenta, muito pelo contrário. A agonia é rápida – aliás, muitos jornais já fecharam, após perderem leitores devido a práticas detestáveis de comprometimento de conteúdo. E os empresários vesgos acreditam se tratar de crise do mercado anunciante.
Em poucas palavras: o jornalismo vive da vendade, da confiança, da parceria, da defesa do cidadão. O jornalismo corrupto é uma praga, que resolve rapidamente o problema de caixa da empresa, mas compromete o futuro do produto. E não adianta adotar soluções milagrosas como distribuir brindes, jogos de talheres, miniaturas de carros, CDs. Isso é só adiar o dia do juízo final.
Os jornais que se vendem têm vida curta. No "business" do jornalismo o leitor é rei. Ele não pode ser enganado de propósito. Rapidamente o leitor decreta a morte desses jornais.
Vida longa aos jornais. Vida breve às publicações parciais e mentirosas que atrapalham o desenvolvimento das cidades, iludem leitores e perpetuam políticos corruptos no poder.
Os magnatas da comunicação precisam aprender de uma vez por todas. Ou seguirão vendo o dinheiro escorrer pelas sarjetas.

Eduardo Tessler

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