terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Obviedades


Extraido do Terra Magazine

Rui Daher De São Paulo

As duas últimas colunas do ano passado traziam ideias para a presidente da República no setor da agropecuária.

Apenas uma semana ausente deste espaço e são tantos os assuntos a comentar que assim parece ser o estar vivo. Uma obviedade como as abaixo.

1. Referindo-se a 2011, folhas e telas retumbam: "alimentos iniciam o ano com preços globais recordes". Nada que não fosse possível prever já no início de 2010.

O vigoroso comércio internacional de alimentos, a recuperação - ainda que tímida - da economia norte-americana e a extrema liquidez do mercado financeiro, eram rota segura para o aumento dos preços.

Baseada em uma cesta das principais commodities - cereais, carnes, óleos açúcar e lácteos - a FAO, desde 1990, mede os índices de preços dos alimentos. Depois do pico em 2008 (191 pontos), até setembro de 2010, o índice médio permaneceu ao redor de 167 pontos, uma queda de 13%.

Em dezembro ele atingiu 215 pontos.

2. Formação de novo governo, espaço pequeno para acomodações, e o setor rural já discute quem será o primeiro a quebrar o vaso. Mais uma vez se contrapõem lideranças ruralistas e de movimentos sociais.

Não apenas nomes para o segundo escalão estão envolvidos na disputa, mas muita grana. Exemplo: um bilhão de reais do orçamento reservado para garantir preços mínimos é objeto de um feroz cabo de guerra.

De um lado, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, e as tradings e agroindústrias beneficiárias de subvenções oficiais. De outro, os técnicos de ministérios da área social e da Fazenda.

Segundo a CONAB, até julho de 2010, 85% dos prêmios de escoamento do produto (PEP) beneficiaram tradings, indústria e comércio. Entre outros, estão nessa Bunge, Cargill, Dreyfus, Multigrain, Amaggi, ADM.

Produtores, cooperativas, sementeiras e granjas dividiram o saldo. Óbvio, não?

3. Ainda da série "cabo-de-guerra-sem-fim", enquanto a Agricultura, nas palavras do ministro Rossi (PMDB-SP), descarta a revisão dos índices de produtividade, o novo ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence (PT-BA), assumiu dizendo: "a revisão dos índices é do interesse do país".

Os índices atuais vigoram desde 1975. Não há quem discorde estarem ultrapassados. Fosse essa a nossa produtividade, o Brasil seria o maior importador de alimentos e a Confederação Nacional da Agropecuária (CNA) não poderia exaltar a excelência de nossa produção.

Qual o motivo, então, para o ministro da Agricultura, em entrevista ao jornal Valor(14/11/10), dizer: "Sou totalmente contra a existência do índice. É um ato autoritário, de cima para baixo, um estímulo ao conflito negativo. Não há por que induzir a isso. Acho que esta discussão já está encerrada".

O óbvio: os índices atualizados não responderiam apenas a uma curiosidade estatística ou verdade factual, mas serviriam por efeito de lei para desapropriações com finalidade de reforma agrária.

Nem tão óbvio assim Bienal, o café intercala ciclos de alta e baixa produção. A colheita de 2011 deverá ser de baixa. Nem tanto. A CONAB acaba de divulgar sua primeira estimativa: 42 a 45 milhões de sacas. Em 2010, ano de alta, colheu-se 48 milhões.

Garantida por boas produções e preços remuneradores, pelo menos nas próximas duas safras, a cafeicultura brasileira deveria aproveitar o período para cuidar dos sérios problemas estruturais que elevam seus custos na expectativa de períodos de preços baixos que, fatalmente, virão.

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