quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Patada Ecológica


Um Brasil que se queira justo e sustentável terá necessariamente que rever a patada ecológica de seus bois
Roberto Malvezzi (Gogó)

A “pegada ecológica” dos 187 milhões de brasileiros está estimada em 2,4 hectares por pessoa ano. Já ultrapassou a demanda, considerada equilibrada, de 2,1 hectares. Como o Brasil é o décimo país mais desigual do planeta, é evidente que alguns poucos estão consumindo mais hectares do que a esmagadora maioria que mal consegue sobreviver.

Porém, o estrago feito pela média brasileira tem embutida à “patada ecológica” do rebanho bovino. A pecuária brasileira ocupa 172 milhões de hectares para 177 milhões de cabeça de gado. Cada boi, portanto, ocupa quase um hectare de terra, ou seja, quase 20% da superfície do país. Toda área ocupada pela agricultura não passa de 72 milhões de hectares. Portanto, a “patada ecológica” das boiadas representa quase 50% da “pegada ecológica” da média brasileira.

Hoje a pecuária, parte essencial do agronegócio, representa quase um terço do PIB agrícola. Portanto, tem importância econômica. Ninguém que assuma o comando político do país vai abdicar desse negócio. Seria deposto no dia seguinte. Mas seu estrago é infi nitamente maior do que o da cana, da soja e outras atividades do agronegócio. Sem falar que para produzir um kg de carne são necessários de dez a 40 mil litros de água, a depender do que é contabilizado em todo o processo.

Há um agravante. Os bovinos, em seu metabolismo, expelem gás metano pelos arrotos e outros mecanismos, um dos gases do efeito estufa, dezessete vezes mais perniciosos que o próprio dióxido de carbono.

As fazendas de gado, nascidas junto com o país, ainda têm o dom de abrigar trabalho escravo em muitas de suas atividades. Portanto, primitivas no jeito de produzir, primitivas no jeito de lidar com as pessoas.

Quem conhece a lógica da biodiversidade sabe que nenhuma espécie sozinha é danosa ao equilíbrio da vida. Porém, quando se torna monocultivo, passa a ser um problema, não uma solução.

Um Brasil que se queira justo e sustentável terá necessariamente que rever a patada ecológica de seus bois.

Roberto Malvezzi (Gogó) é assessor da Comissão Pastoral da Terra


Em Outra Visão


O rebanho de bovinos de Mato Grosso é o maior do Brasil. Das 205,292 milhões de cabeças contabilizadas em dezembro de 2009, pelo menos 13% estão no Estado, ou seja, 27,3 milhões de cabeças. Já, a população do estado é de 3 milhões de habitantes, 10% dos habitantes bovinos. Em Juára, município localizado ao norte do MT, são 910 mil cabeças contra uma população humana de 40 mil habitantes. Em Corumbá-MS são 1,9 milhões de cabeças para 100 mil habitantes humanos.

Temos mais de uma cabeça bovina por brasileiro e ainda assim 20 milhões convivem com a fome. Isso só para falar me bovinos, pois de suínos são mais 38 milhões de cabeças, de aves 1,2 bilhões, caprinos 10 milhões e ovinos 17 milhões de cabeças.

Nossa presidenta, prometeu erradicar a fome no Brasil, seu antecessor falou o mesmo. Mas, infelizmente toda esta carne é produzida para matar a fome de Árabes, Russos, Japoneses, Chineses, asiáticos diversos e alguns poucos africanos com dinheiro.

Um bovino alimenta uma família por 30 dias, se a mesma área (superfície), necessária para criar um bovino (dependendo da região e manejo são necessários de 0,8 a 5 ha / cabeça), fosse utilizada para produzir diversos vegetais alimentaria a mesma família pela vida toda.

Fica aí uma sugestão para nossa presidenta.

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